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CÍCERO GOMES DA SILVA

( Brasil – Pará )

NKasceu na cidade de Murici, na zona canavieira de Alagoas em 5 de  março de 1962.  Cícero vem por causa do Padim Ciço.

Viveu um período de sua vida na região do Araguaia, no Pará, motivo de ser incluído na seguinte antologia:

 

POETAS DO ARAGUAIA. Prefácio de Carlos Rodrigues Brandão.  Rio de Janeiro: CEDI,  1983.  132 p.  ilus              Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Foto do Rio Araguaia, no Pará:
https://br.images.search.yahoo.com/search/images

 


ÊXODO

Brotou a voz
na terra seca.
A fome e o medo
faziam presença
na vida dura.

A seca
aniquilava esperanças.
O homem-terra
gritou no silêncio.
A caatinga cantava
cantigas de sol.

O solo rachado
rachava vidas.
O homem remoto
rezou no regado pranto.

 

Benditos tomaram lugar
das cantigas alegres.
O sertão chorava
em todas as coisas.

Da lágrima silenciosa
brotou a profecia:
Padim Ciço de nossos dias
falou e meu povo ouviu:

— Vão, meus irmãozinhos,
busquem um bom lugar,
de sol, seca, lamentação.
Atravessem o Araguaia
e lá está
a terra da Promissão.



       GARÇA
ao Chico Boneco

Garça
branca
silenciosa
meditativa
de passos pensados
olhar esguio.
Senhora suprema
desses lagos
mornos
cristalinos.
Garça cor-Paz
que voa
em câmara lenta.
Pureza
beleza
deste sertão.
Amiga do sol
do céu.
Me quedo na harmonia
de teus passos calculados.
Me perco na oração
de teu silencioso voo.



KARAJÁ

Homem-terra
de passos exatos,
olhar profundo.
Senhor do Rio.
Karajá
canoeiro.
Conheces o ululu
dessas águas?
Tua amiga aurora festiva
hoje se queda taciturna.
Teu Aruanã já não celebras?
Karajá
canoeiro.
Senhor dessas matas
que já não existem...

Quem te trouxe
tanta destruição?
Karajá
canoeiro.
Teu povo-nação
ferido,
aniquilado.
Karajá
canoeiro.

No ânimo
atormentado
ressoa teu grito
moldado de ais.
E o vento uiva
noturno
em tua agonia....
Karajá
canoeiro.
Povo valente
adormecido.
És condenado a morrer

sob as patas
dos bois
que hospedas
em teu chão?


UMA CERTA MARIA

Maria acorda às cinco.
Antes dos patos passarem,
mete a lenha no fogo,
prepara o quebra-jejum.
Põe a enxada nas costas
no caminho da roça.

 

***

                           pingo
pingo
pingo pingo pingo
pinga pinga pinga
pinga
pinga
pinga
pinga
pinga
pinga
pinga


pingo foi um palhaço


*

      

VEJA e LEIA outros poetas do PARÁ  em nosso Portal:

 

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/para/para.html

 

Página publicada em outubro de 2022


 

 

 
 
 
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